o olhar indiferente eh que mata o jardim...

Quem foi que disse que os sonhos não morrem? Eles não morrem sozinhos; as pessoas, o tempo, as circunstâncias se encarregam de matar qualquer forma de sonho na nossa vida. Eu lamento muito não poder voltar atrás e amarrar uma corda de aço nos meus sonhos, assim eles não me escapariam com certeza... Existe idade para sonhar? Sim, tenho certeza que existe; e a minha já passou faz muito tempo, eu não consigo mais sonhar, não tenho mais tempo, não tenho mais coragem de sonhar... Tantas coisas perdidas na vida, tantos sonhos esquecidos, despedaçados...Que desperdício de sentimentos, de ações...Pra chegar no fim de tudo e olhar pra trás e constatar que nada valeu a pena... tudo jogado fora! Devia ter amado mais, rido mais, me alegrado mais. Devia ter quebrado regras, conceitos; devia ter andado descalço na chuva, na lama, na terra....Devia ter usado blusa rosa com saia verde de bolinha, e daí que não combina?! A roupa era minha! Devia ter me importado menos com os problemas pequenos ou com o cheque grande que ia cair na conta....Devia ter vivido a minha vida, não a vida que os outros quiseram pra mim....A vida que eu quis pra mim não era essa. Eu poderia ter sido uma rainha ou simplesmente uma mendiga, não importa, era a minha vontade. Viver de sonho...viver de abandono, de migalhas...ninguém merece! Quanta ilusão...O meu coração já foi um Castelo iluminado, hoje é somente um casebre escuro em ruínas......... Eu sei que eu posso, ou poderia; mas é proibido sonhar, é proibido amar, é proibido ser “eu” na minha essência. È a navalha na carne, que corta, que mutila e fica somente o vazio e o sangue... Eu já atravessei essa ponte uma vez...nunca mais... o preço é a minha alma, o meu coração... ousei sonhar, ousei viver, ousei cantar, ousei ser simplesmente eu.............Os meus olhos verdes no espelho parecem vermelhos, eu me encaro e não me vejo. Se passaram tantos anos, tanta coisa já passou....passou um mar inteiro debaixo dessa ponte; muitos reinos conquistados, batalhas vencidas, batalhas perdidas...palavras que se perderam no tempo...proferidas ao léu, sussurradas e não ouvidas; ou ouvidas e esquecidas como se jamais tivessem sido proferidas, ditas à pessoa errada, na hora errada...tudo errado; e eu falei tanto, tanto... e eu gritei tanto, mas nunca ninguém me ouviu....E agora somente essa tristeza e esse fel que me consomem...eu vivo de melancolia, de saudade...saudade até mesmo de coisas que eu nem vivi, que eu nem senti, mas sinto agora...trágico, cômico, irônico... tantos amigos que eu deixei ao longo do caminho...isso dói até hoje...lembrar de tantas travessuras, de tantas festas, de tanta convivência e hoje tudo se perdeu e todos somos estranhos...eu tenho muito medo de ser mal agradecida, de estar sendo egoísta pensando somente em mim, quando ao meu redor eu sei que há pessoas com problemas bem mais graves do que meus problemas existenciais, mas me perdoe meu Deus se isso for pecado, porque eu sou gente, com todos os defeitos que alguém tem, aliás eu acho que eu tenho mais defeitos do que qualidades, mas eu sou assim, vou errando, vou chorando, vou me erguendo, vou tentando...não sei onde esse caminho vai dar, só sei que é o meu destino...os olhos são o espelho da alma, e os meus refletem essa nuvem escura sobre mim...Eu sou feliz??? Já me fiz essa pergunta um milhão de vezes, e nunca soube responder...ora eu sou feliz, ora eu sou triste...então, sou eu feliz???........Meu Deus quanta amargura na minha vida,eu me sinto como o título daquele livro do Gabriel Garcia Marques: CEM ANOS DE SOLIDÃO...e eu só tenho 40! Eu deixei tanta coisa para trás, tantas pegadas na areia, eu sei que deveria somente olhar para o futuro, mas é mais forte que eu, meu pensamento vive voltado para o passado, nas coisas que eu vivi e poderia ter aproveitado mais cada minuto, cada segundo..hoje eu sei que ninguém é imortal, nem mesmo uma jovem tão cheia de sonhos, cheia de idéias e vontade de beber cada segundo do tempo, de nem mesmo dormir aos domingos para não perder nenhuma oportunidade de respirar, de vibrar, de pensar e de sonhar.......o mundo era pequeno na minha cabeça, nada nem ninguém poderia me podar, podar minhas idéias, meus ideais, meus sonhos...........me tiraram tudo em pouco tempo, tive que crescer e matar a menina que um dia eu fui, tive de encarar o mundo adulto, real... o mundo do dinheiro, da ganância, das decepções, o mundo verdadeiro e real, sem Romeus e Julietas, sem Lancelot e Ladys Guinevere, sem luas prateadas e estrelas brilhantes, sem céu feito de carneirinhos e bichinhos de nuvens que logo se desmancham... Pobre de mim, tola criança, transformada em mulher num passe de mágica, atirada à realidade, e eu não estava preparada para a enxurrada de responsabilidades que vinham junto com o tal mundo adulto...quantas vezes eu chorei baixinho me perguntando o que fazer, como agir, como ser gente grande, como cuidar de três pessoinhas tão pequenininhas que saíram de dentro de mim, e dependiam em tudo somente de mim, .....eu só brincara de boneca até então! De boneca e de livros, meus companheiros inseparáveis...meu mundo imaginário, que me levava à qualquer parte, que me permitia ser qualquer um, ou eu mesma...será que foi este o meu erro? Viver em mundos perfeitos em que tudo se resolvia no final e todos viviam felizes para sempre?
Mery Fidelis Brambilla
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